Parte da culpa pode ser do conto
de fadas, de Hollywood ou dos livros que superestimam o amor como um caminho para
a felicidade e realização. Mas vamos ser sinceros. A maior parte da culpa é
nossa. Somos nós que vemos um olhar normal e inventamos que é diferente, que ao
sentir o toque dele imaginamos arrepios que percorrem o corpo e a alma, sem
parar para pensar que um vento frio bateu justamente na hora ou que uma gripe
te pegou de surpresa trazendo todos aqueles sintomas que achamos ser amor. Romanticalizamos
tudo. E era de se esperar diante da proposta sedutora de encontrar uma alma
gêmea que te complete, que te entenda e que.. te ame! Então queremos acreditar
que o carinha que conhecemos na balada possa ser nossa cara-metade. Afinal,
aquele beijo não foi por acaso, teve uma química diferente. Não é mesmo? E se
ele ligar no dia seguinte, é um sinal dos céus. Ele passa a possuir um grande
potencial de ser a tal metade da laranja que você vem procurando há tanto tempo.
Nos entregamos a fantasia, nos
apaixonamos, jogamos em cima do relacionamento a obrigação de nos fazer
felizes, e para sempre, fazemos mil planos para o futuro. Mas espera um
segundo. O quanto disso, verdadeiramente, é real? Talvez só mesmo o nosso desejo
pelo amor e por acreditar em sua existência.
Não que o amor não exista. Ou
exista. O ponto é que esse amor que buscamos é invenção. Nada mais que uma
projeção de nossas fantasias e ideias sobre uma felicidade a dois. Queremos
tanto encontrar um sentimento que ultrapasse os limites impostos como o de
Romeu e Julieta que fazemos exatamente como Shakespeare e o inventamos, apenas
de uma forma menos poética. Basta uma
sombra de afeto ou atenção que o enxergarmos e o exaltamos como a chance da
nossa vida de ser feliz. O fato é que essa ilusão criada talvez pelos livros e
sustentada por nós, nos coloca cada vez mais distante de uma felicidade real.
Por mais que tentemos amparar esse falso amor, mais cedo ou mais tarde ele se
dissolve, nossos pés voltam a tocar a realidade e ficamos com um puta
sofrimento e com a sensação de inexistência do amor. Temos que encarar os
fatos. Por mais que seja tentadora a ideia de ter encontrado o amor da sua
vida, devemos questionar se ele é realmente tudo o que pensamos ou é apenas
nossa fantasia. Se enxergarmos a incoerência de nossas idealizações, talvez
encontremos na pessoa ao lado algo bem melhor do que o imaginado.
nota: sou romântica incorrigível!